Correio Braziliense – O Correio propõe viagem a 1888 para noticiar a abolição

Fonte: http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2013/05/11/interna_brasil,365461/o-correio-propoe-viagem-a-1888-para-noticiar-a-abolicao.shtml

O Correio propõe viagem a 1888 para noticiar a abolição

A marcha da liberdade: sob intenso debate, projeto que põe fim à escravidão passa na Câmara dos Deputados

Renata Mariz

Ivan Iunes

Publicação: 11/05/2013 07:08 Atualização: 11/05/2013 11:31

Há exatos 125 anos, o Brasil Império, sob o comando de uma princesa interina, passava por uma ebulição social nunca vista nos mais de três séculos de história documentada desde o descobrimento, em 1500. No início do ano de 1888, começavam a se desenhar os acontecimentos que culminariam em um dos mais importantes marcos legais do país: a Lei Áurea. Para recontar esse momento emblemático, o Correio convida você, caro leitor, a uma viagem no tempo. Até terça-feira, a série de reportagens Abolição, 125 anos volta ao Rio de Janeiro da segunda metade do século 19, província que abrigava o jogo político da época, para contar como se deu a extinção da escravidão no Brasil em seus quatro dias decisivos. As reportagens mostrarão os embates entre deputados e senadores, a pressão do governo imperial e o quanto as relações de poder no fim do século retrasado guardam semelhanças com os tempos atuais. Para isso, a cada dia, questões contemporâneas relacionadas à desigualdade racial brasileira serão trazidas à tona. Uma boa viagem!

Milhares de lírios e rosas cobriram ontem a Rua Primeiro de Março. Nas imediações da Câmara dos Deputados, no centro do Rio de Janeiro, o clima de comoção tomou conta dos cerca de 5 mil manifestantes que acompanharam a votação do projeto de lei que extingue a escravidão no país. Depois de três dias de discursos ácidos e de provocações mútuas dos parlamentares, a proposta, enviada ao Congresso Nacional pela princesa imperial regente, Isabel, foi aprovada por 83 votos a favor e nove contra. Única nação do mundo ocidental que ainda mantém o regime de servidão, o Brasil nunca esteve tão próximo de extirpar o que vem sendo chamado de “ancro social” pelas campanhas emancipadoras. Para o rompimento total dos grilhões, contudo, é necessária ainda a chancela do Senado, que começará a examinar o texto hoje mesmo.

Apesar do temor em torno de um retrocesso no Senado, conhecido pelo conservadorismo em suas posições, a festa nas ruas se estendeu por horas. Com flores e aplausos, homens e mulheres descalços, evidenciando a condição de criados, já que o uso de sapatos é permitido apenas às pessoas livres nos dias atuais, festejaram ao lado dos milhares de brancos que apoiam a abolição. Antes mesmo de o resultado da votação ser anunciado, era grande o frisson no plenário da Câmara, cujas galerias ficaram lotadas de gente atenta aos movimentos dos parlamentares. Palmas e gritos de “Apoiado!” chegaram a irritar o deputado Andrade Figueira, do Partido Conservador, ferrenho defensor da manutenção da escravidão. “A invasão de pessoas estranhas converte a augusta majestade do recinto em circo de cavalinhos”, reclamou.

Conservadores e liberais formaram aliança inédita para aprovar o projeto de abolição na Câmara por 83 votos favoráveis contra nove (Projetomemoria/Reprodução)
Conservadores e liberais formaram aliança inédita para aprovar o projeto de abolição na Câmara por 83 votos favoráveis contra nove

Dono de uma postura radical, Figueira protagonizou, na sessão de terça-feira – quando o projeto começou a ser analisado -, um dos embates mais tensos dos últimos dias, ao discutir com o deputado Joaquim Nabuco, do Partido Liberal em Pernambuco, sobre o cumprimento do Regimento Interno da Casa. Ao questionar a celeridade, medida em minutos, com que a comissão especial criada para analisar o projeto apresentou o parecer, Figueira disparou: “Quaisquer que sejam as impaciências para converter em lei a proposta do governo é preciso colocar, acima de tudo, a legalidade dos atos do parlamento”, disse o deputado do Rio de Janeiro. A queixa foi em vão. Por maioria, a Câmara entendeu que o prazo de 24 horas é necessário apenas para os colegiados ordinários, e não para uma comissão especial, caso em questão. O primeiro dia de debates terminou, entretanto, sem definição clara do resultado final.

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